segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Por cervejas mais decentes.

Por que as pessoas acham legal parar R$350 um uma garrafa de Brunello di Montalcino(vinho italiano bom para caraleo) e acham um absurdo o preço de uma Gouden Carolus Cuvee van de Kaiser 2003?(cerveja belga phoda, com ph de pharmácia)
Querem saber? Eu paguei R$89 em uma Gouden Carolus 2006, e, sem muita dor de consciência, sorvi deste nectar no meu almoço de domingo.




O problema é que, especialmente na Am. do Sul, a indústria fez um desfavor ao universo da cerveja. Não sou contra a idéia de que a cerveja é a bebida do povo. Mas daí a acostumarem o povo a beber um troço com 50-60% de malte, ainda por cima dando o nome de "Pilsen" a esse mijozinho de égua... É muita sacanagem. Depois neguinho vem dizer "porque o Brasil não é um mercado maduro, porque isso, porque aquilo". O caralho. Toma-se cerveja nesse país desde mil oitocentos e Dercy virgem. A primeira foi a "Cerveja Marca Barbante". Infelizmente não encontrei nenhuma foto dela.

Voltando à questão da maturidade do mercado, vocês sabiam que a Brahma já teve uma cerveja do tipo Porter? Aliás, quem sabe o que é uma porter no Brasil de hoje? Meu avô, que lembra da Brahma Porter. Olhem só esta amostra de rótulos de cervejas antigas... Só Brahma, hein!









Agora eu pergunto: o mercado não está maduro o suficiente ou, em algum momento da história, resolveu-se idiotizar o mercado em função da exepectativa de um aumento absurdo do volume de vendas em todo o país? Sim, o volume é necessário. E a diversidade? Dez, quinze anos atrás, as pessoas tinham que beber Kaiser Bock, quando quisessem variar um pouco. Kaiser Bock... humpf... Até uma Bock eles conseguem deixar com gosto de suquinho ralo de cevada. Tem gente que diz "Ahhh, mas hoje a gente tem a Bohemia Abadia, a Bohemia Weiss...". E eu pergunto "e na bunada, não vai dinha?". Eu nunca tomei uma Abadia tão safada quanto aquela da Bohemia. E de tão safada deveria se chamar "Bohemia Avadia".

Sabe o que é? As "Grandes" querem mais é fazer o povo tomar cerveja com limãozinho, cerveja "Fresh" e safadezas desse tipo. Graças a Deus que tem uma penca de microcervejarias crescendo nesse país, e com muita competência. Eisenbahn, Bamberg, Colorado, Baumgartner, e até a Devassa, que tem um apelo mais mainstream que as outras, mas mesmo assim não perde o charme ou a qualidade. O problema é que elas são caras demais para quem está acostumado a pagar R$1,90 numa garrafa de sei lá o que.


Tudo bem, tudo bem... Posso estar fugindo um pouco da realidade, mas eu realmente não acredito que o Brasileiro não seja capaz de curtir uma boa cerveja! Acho que ninguém se preocupa em ensinar, só isso. O país é quente, logo a parada tem que refrescar. Isso não parece simplista demais? É meio que "já que é assim, assim será". E tem uma coisa: se o cara que inventou a Absolut tivesse se intimidado com o imenso valor que as pessoas davam à procedência das Vodkas, ele não teria engarrafado sequer um litro. Mas não. Tudo bem que, nesse caso, 90% é marca e a "escusa racional" é a qualidade do produto. Mas essa já não seria uma saída? É claro que eu não sou louco de dizer que esse movimento tem que começar de baixo para cima da pirâmide, só que a escalada está lenta demais, minha gente, e é essa lentidão que eu critico.




Se me incomoda pagar muito caro por uma cerveja? Não na atual circunstância. Mas confesso que eu compraria muito menos cervejas importadas - e que custam o olho da bunda - se no Brasil houvesse mais pessoas como o Leonardo Botto, que é um alquimista da cerveja, e que fez uma Belgian Dark Strong Ale pra nenhuma "Trappistes Rochefort" botar defeito. Eu tive a oportunidade de saborear algumas de suas criações, como a Pocahontas, uma India Pale Ale, que, na minha opinião, dá um pau na "Greene King". Se a gente encontrasse cerveja nacional assim, eu tava feito! Já estamos caminhando pra isso. A Eisenbahn tem uma Amber Ale, uma Strong Golden Ale, uma Schwartzbier e uma Weissenbock, que não devem nada às grandes cervejas importadas. A Bamberg tem a melhor München que eu já tomei, e o Botto tem lá meia dúzia de panelas, onde ele faz verdadeiros milagres... E o cara lá da FEMSA se chamando de mestre-cervejeiro. Nada contra o cara, mas ou ele é infeliz, ou gosta mais de engenharia do que de cerveja, convenhamos.

Eis o mestre dos magos da cerveja, meus amigos, Leonardo Botto!




A verdade é que as "grandes corporações cervejeiras"(nossa, que termo comuna!) se renderam ao volume e se esqueceram do valor. Já pensaram que as pessoas que tem um "ronaldinho" a mais no bolso pagam R$30,40,50,100 reais em uma garrafa de vinho e ainda se metem a besta de falar que aquele harmoniza bem com isso, que tem notas de madeira, de pão torrado, de frutas, de caralho velho, enfim, della putana eva che le a messo in questo mondo, mas não aceitam pagar mais de R$5 reais em uma boa cerveja? Foda, né? A culpa é apenas e tão-somente da indústria, e tenho dito! Zé Finí!

Adoro vinho, não entendo porra nenhuma e estou cansado de ver aquele povo que não sabe diferenciar o cu das calças não pensando duas vezes antes de dizer "esse aqui é frutado", só pra impressionar a menininha que eles estão embriagando no processo de pré-abate. É muita fanfarronice pro meu gosto.

Ah, se as pessoas soubessem que o universo da cerveja é tão complexo e apaixonante quanto o dos vinhos... Juro que eu seria até mais tolerante com os processos de pré-abate. :-)

Sei lá... Tô bêbado. Já bebi uma garrafa inteira de Chimay - que tem 10% de graduação alcóolica - e cansei de cagar regra.

Boa noite.

Um comentário:

Unknown disse...

Absolutamente genial.